02 janeiro 2011

Determinantes da moda 1 - Tecnologia

Bouguereau - La Fileuse
Um dos maiores determinantes da moda é a tecnologia a que se tem acesso na época, ou seja:

Quais as fibras disponíveis?
Qual a capacidade de fiar estas fibras e qual a espessura e resistência do fio produzido?
Quais os corantes, alvejantes e produtos amaciantes?

Qual a capacidade da tecelagem?
Quais as ferramentas disponíveis para a confecção?

Daí que a gente pode juntar todas estas variáveis, e as mudanças lentas que ocorreram no tempo em cada uma delas, para concluir que seria impossível para uma pessoa no século XVI se vestir como nós nos vestimos hoje em dia, mesmo se as questões ligadas aos outros determinantes permitissem.

Sempre fico imaginando como foi feita a primeira agulha....
Como descobriram que amassando determinado fruto ou inseto e deixando um tecido mergulhado no suco ele ficava de tal ou qual cor...

E por aí vai.

Conseqüentemente, o uso de alguns tecidos era restrito a determinadas classes sociais, seja em decorrência do preço, pelo domínio de uma técnica específica na localidade, etc. Houve guerras no Oriente por causa da seda...

O custo dos corantes e alvejantes também determinava o valor das vestimentas.

Hoje o uso das cores é indiscriminado, em decorrência dos corantes vindos da indústria petroquímica que igualaram os preços, mas as roupas brancas ainda sofrem uma certa resistência, pois seu uso está sempre associado ao trabalho para mantê-las claras.

Mas os significados se mantém.  Os clãs da Escócia têm, cada um, uma padronagem distinta de xadrez (quem tiver curiosidade veja esse site sobre os tipos de "tartan": http://www.tartans.scotland.net/find_tartan.cfm.htm.)
As bandeiras atuais de vários países possuem as cores das famílias reais, mesmo que a realeza não mais exista.  Na França, por exemplo, as três cores encontram representações no passado, o vermelho no início do reino, com Clovis, o azul, a dinastia dos Capetos (séc. 14) e o branco, o símbolo máximo da realeza francesa, da flor de lis.
Aqui no Brasil, o verde e o branco representavam a casa de Bragança e o amarelo a casa de Habsburgo (a explicação das matas e do ouro veio depois, de forma poética, mas a origem é da realeza).

A invenção dos teares e da máquina de costura data do final do século 18, mas o processo de sua produção em larga escala e o barateamento de seu custo levou anos para se completar, sendo que até o início do século 20 muitas roupas eram costuradas à mão, processo evidentemente demorado, que impedia a produção em larga escala.  

Vejamos um exemplo mais atual: Há algumas décadas atrás, uma roupa de paetês era item de luxo, pelo trabalho necessário para prender, à mão, lantejoula a lantejoula.  Hoje, com o advento de máquinas que produzem o tecido já bordado, o uso desses tecidos ficou indiscriminado, sendo vendido em grandes redes de varejo, até mesmo em peças para o dia-a-dia. (na foto, vestido da PostHaus que vende roupas por catálogo)

Para qualquer estudante de moda e sua história, é importante ter sempre em mente esses fatores para poder analisar sua influência nas escolhas das vestimentas de cada época, feitas em decorrência da disponibilidade desses materiais.

Por outro lado, como a roupa (aqui entendida como o conjunto de trajes, sapatos e acessórios) muitas vezes é a forma mais fácil de distinção social, por mais visível,  permanece a procura por itens raros e de difícil obtenção como ostentação de poder e riqueza.
Substitui-se a raridade dos materiais, agora, pelo design e fabricação exclusivos, motivo porque as peças hoje trazem em destaque os nomes das grifes que as produziram.

Um comentário:

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